Tempestades regionais severas são responsáveis por 76% das perdas financeiras em 2023, atingindo Estados Unidos e Europa - Foto: Gabriel Jabur/Agência Brasília |
Eventos climáticos extremos causam prejuízo global de US$ 250 bilhões em 2023, com apenas US$ 95 bilhões segurados
Por Nayara Machado - EPBR
O ano mais quente da história ficou marcado por eventos climáticos como secas extremas e incêndios, além de chuvas torrenciais e inundações, que contribuíram para o prejuízo global de US$ 250 bilhões em 2023, de acordo com dados compilados pela companhia de resseguro alemã Munich Re.
Desse total, apenas US$ 95 bilhões estavam segurados – ante US$ 125 bilhões em 2022.
A análise publicada nesta terça (9/1) mostra que as perdas registradas em 2023 tiveram como característica o grande número de tempestades regionais severas: 76% dos custos foram relacionados ao clima.
Estados Unidos e Europa, por exemplo, nunca haviam registrado prejuízos tão altos devido a tempestades: cerca US$ 66 bilhões em ativos foram destruídos nos EUA (US$ 50 bilhões estavam segurados) e mais US$ 10 bilhões na Europa (US$ 8 bilhões segurados).
Já os outros 24% dos danos financeiros atrelados a desastres tiveram causas geofísicas, como a série de terremotos no sudeste da Turquia e Síria, em fevereiro – o desastre natural mais destrutivo do ano, com perdas totais de cerca de US$ 50 bilhões (US$ 5 bilhões segurados).
Recordes de temperatura, chuvas e incêndios
Em março do ano passado, cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) publicaram a quarta e última parte do Sexto Ciclo de Avaliação com um alerta: as emissões de gases de efeito estufa precisam cair agora.
O documento reúne análises de centenas de pesquisadores do mundo inteiro sobre a velocidade com que o clima está afetando regiões e populações inteiras e estima que mais de três bilhões de pessoas estão altamente vulneráveis.
O ano passado deu uma demonstração do que está por vir.
Em todo o mundo, as temperaturas médias até novembro estavam cerca de 1,3°C acima das registradas na era pré-industrial (1850-1900). O fenômeno El Niño ajudou a elevar o termômetro, mas a comunidade científica é enfática em atribuir a tendência de aumento principalmente às mudanças climáticas.
Os eventos mais caros do ano
Depois dos terremotos na Turquia e Síria, o segundo desastre natural mais caro, em termos de perdas totais, foi o tufão Doksuri, que passou pela costa das Filipinas em julho e atingiu a província de Fujian, na China. O evento foi acompanhado por chuvas intensas que desencadearam inundações destrutivas: prejuízos de cerca de US$ 25 bilhões (US$ 2 bilhões estavam segurados).
- Em partes da China, 600 mm de chuva caíram em um único dia, a maior quantidade diária já registrada no país.
Outro evento excepcional elencado pela Munich Re foi o furacão Otis na costa oeste do México, em outubro.
"Em vinte e quatro horas, ele se transformou de uma fraca tempestade tropical em um furacão de categoria máxima. Ao atingir diretamente o resort de férias de Acapulco, devastou a cidade. Com velocidades do vento de até 265 km/h, foi a tempestade mais severa a atingir a costa do Pacífico do México", apontam os analistas.
As perdas totais são estimadas em US$ 12 bilhões, dos quais cerca de US$ 4 bilhões estavam segurados devido à alta concentração de hotéis na cidade.
Prejuízos de R$ 1,4 bi no Brasil
De acordo com a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, mais da metade dos municípios brasileiros esteve em situação de emergência ou estado de calamidade no ano passado, com 14,5 milhões de pessoas afetadas e gastos de R$ 1,4 bilhão com desastres climáticos.
Além disso, há pelo menos 10 milhões de pessoas morando em áreas de risco no Brasil, onde os impactos das mudanças climáticas são ainda mais severos.