A já conturbada corrida eleitoral pela prefeitura de Goianésia, a 178 quilômetros de Goiânia, ganhou novos desdobramentos. O candidato do MDB no município, Pedro Gonçalves, denunciou à Polícia Federal ter sido abordado por apoiadores do atual prefeito, Renato de Castro, para que desistisse de sua candidatura
Segundo Pedro, os negociantes chegaram a oferecer R$ 1,4 milhão, cargos e benefícios para tentar demove-lo de disputar a eleição. O candidato fez registro dos fatos no último dia 3 de novembro, junto à Polícia Federal (PF) de Anápolis.
Segundo reporta no documento, os acontecimentos se deram durante a pré-campanha até o dia da convenção partidária, em 16 de setembro. No depoimento à polícia, Pedro conta que, desde que colocou seu nome à disposição do partido, as investidas começaram por parte de Artur de Castro Vieira de Freitas, que o teria contactado a pedido do prefeito Renato e de seu pai, o atual secretário da Casa Civil municipal, Manoel de Castro, conhecido como “Fião”. Os diálogos perduraram por vários dias, por meio de aplicativo de mensagens e ligações telefônicas.
Em uma das conversas, Artur oferece a quantia de R$ 450/500 mil reais, além da vice-prefeitura de Goianésia, duas secretarias do município e até a promessa de uma diretoria na Câmara Municipal de Goiânia. Mesmo sem nenhuma intenção de declinar de sua candidatura, como de fato ocorreu, Pedro conta que resolveu deixar a conversa seguir, para documentar e se proteger. “Eu fui levando, para ver até que ponto iria chegar essa situação. Na verdade, eu não acreditava que eles teriam coragem de fazer o que diziam. Fiquei espantado com a forma como agiram”, diz Pedro, que relata ter se sentido ameaçado em alguns momentos.
Sem dar qualquer sinal de que iria aceitar, a oferta em dinheiro saltou então para R$ 1,4 milhão. Pedro chegou a receber, um dia antes da definição do candidato da chapa, comprovantes de transações bancárias relativos a 75% do valor oferecido pelos adversários (R$ 1.050.000,00), que teriam sido transferidos de várias contas pertencentes a membros da família Castro, com a articulação do seu ex-chefe de gabinete, Paulo Vítor Avelar. Entre elas, Aline Carla Amador Borges, prima de Igara Borges, esposa de Renato; Suzana Luiza Carrilho, prima do prefeito. Além disto, constam nos recibos apresentados na denúncia depósitos em contas de terceiros do próprio prefeito, Renato de Castro, e de seu pai, Manoel de Castro.
A candidatura do emedebista foi confirmada na convenção partidária realizada no dia 16. Entretanto, conforme narra Pedro, a tentativa de retirá-lo da disputa não cessou. No mesmo dia, mais tarde, o pai do candidato recebeu na casa do presidente do diretório municipal do Patriota, Wallenstein César Alves, nova visita de Arthur, dispondo de uma mala com cerca de R$ 800 mil em espécie, no intuito de pressioná-lo. “No mesmo dia, por volta das 19h42, recebi uma mensagem do Arthur, dizendo ‘estive com seu pai’”, recorda o emedebista.
O prefeitável relata que, diante do fracasso da tentativa de cooptá-lo para desistir da candidatura, passou então a ser acusado pelos adversários de tentativa de extorsão. Ele acredita que adotaram a estratégia temendo que ele pudesse acionar a polícia para denunciar o ocorrido. De porte de todas as evidências, Pedro procurou a Polícia Federal, onde foi informado que os adversários poderiam estar cometendo crime, não apenas pelos altos valores, o que já causa estranheza, mas pelo fato dos recursos serem advindos de possível prática de lavagem de dinheiro, uma vez que não é descriminado o objeto negocial subjacente.
Não é de agora que o concorrente vem sendo alvo de investidas do atual prefeito. No mês de setembro, o grupo capitaneado por Renato de Castro tentou, sem êxito, acionar as vias judiciais para inviabilizar o candidato do MDB em Goianésia. O atual gestor, que não conseguiu se lançar para reeleição, argumentava que o prefeitável não se desincompatibilizou a tempo do cargo que ocupava no Senado Federal. A Justiça Eleitoral não acatou o pedido e manteve a candidatura de Pedro.